No sábado, após uma brilhante aula de Ética, Políticas Públicas e Diplomacia Ambiental do Professor Viriato Soromenho Marques, fiquei a pensar nas reflexões que partilhou connosco e nas críticas que, tantas vezes, os ideólogos do progresso e os otimistas científicos fazem a quem defende a justiça ambiental e social no presente e os direitos das futuras gerações, chamando-nos “velhos do Restelo, que não querem o progresso”.
Os que cegamente defendem torres em cima da foz do Jamor, mesmo rente à frente ribeirinha do Tejo, é que são velhos do Restelo, porque persistem no equívoco do crescimento ilimitado, no velho paradigma assente nos velhos valores, da ideologia do progresso, do otimismo científico e tecnológico, e da competição política e económica, recusando ver mais além e trilhar um caminho realmente novo e transformador. Vivem na arrogância de que, se há riscos (como inundações e galgamentos costeiros), encontrar-se-á uma solução, a engenharia há de resolver, não importa o custo, não importa quem paga, o que interessa é “construir, crescer sempre mais e criar emprego”. Como se as questões básicas do princípio da precaução em contexto de alterações climáticas, da prevenção de riscos, evitando a construção nos locais mais vulneráveis para evitar vítimas e danos materiais, não se pusesse.
Os velhos do Restelo continuam a insistir no paradigma do passado. Não percebem que é preciso evoluir para um novo paradigma na economia, no emprego, na sociedade e na relação com a natureza – a Comunidade Terra – de que dependemos e fazemos parte.
Os novos valores propostos por Soromenho-Marques na última aula são, nomeadamente, os do pluralismo e da humildade, em contraponto à ideologia do progresso; uma perspetiva crítica (não negacionista, claro) da tecnologia e da ciência; o primado do cidadão sobre o primado do consumidor; a reinvenção da política e da economia, em contraponto às ideias de competição e supremacia.
A transformação necessária e urgente passa por usar racionalmente os recursos, respeitar a capacidade de carga dos ecossistemas, revitalizar a produtividade ecológica dos territórios e paisagens e aumentar a resiliência das comunidades locais. Vivemos desafios que exigem responsabilidade, coragem e ética. O que fizermos hoje terá consequências no futuro e não temos o direito de, arrogantemente, considerar que no futuro os nossos descendentes hão de resolver os problemas de gravidade crescente que lhes legámos. Temos a obrigação moral de evoluir, abraçando um novo paradigma, e de lhes deixar uma herança que não os condene à partida. Por eles, mas também por nós, pela nossa saúde e qualidade de vida.