O Aqueduto de Carnaxide
O Aqueduto das Águas livres é a maior obra de engenharia hidráulica do século XVIII em
Portugal, com os seus 58 Km de extensão, incluindo os seus ramais e pretendia resolver o o
problema da escassez de água em Lisboa, que se agravava com o aumento demográfico da
capital.
O Aqueduto de Carnaxide foi classificado em 1991 como Monumento de Valor Local além de
ser reconhecido também como Monumento de Interesse Público(1). É um aqueduto subsidiário
do sistema do Aqueduto das Águas Livres(2), que se inicia na Serra de Carnaxide, passa por
Alfragide e é na Buraca que entra no Aqueduto Geral. Das várias estruturas arquitetónicas de Mãe
de Água existentes, Carnaxide possui uma das mais trabalhadas.
Na serra de Carnaxide, abunda este recurso precioso que é a água e uma vez que a água que
abastecia Lisboa vinha do Aqueduto de Caneças, achou por bem D. José, em 1765, mandar
erguer este aqueduto que abasteceria Carnaxide no chafariz, também por si mandado
construir, no centro da vila e sabemos que as obras se prolongaram por todo o século XIX(3).
Aqueduto e chafariz são mesmo considerados das mais importantes obras pombalinas no
concelho de Oeiras já que abasteceram Carnaxide de água durante muito anos e ainda
abastecia a povoação e a Quinta Real de Caxias, a 2 quilómetros(4).
Sendo de construção barroca, tem dois troços subterrâneos, a mina tem de cerca de 700
metros de comprimento e dois metros de altura por um de largura, com um túnel de calcário
de teto em rocha. A mina Mãe de Água é uma edificação de planta octogonal, reforçada por
contrafortes exteriores com cobertura em domo com uma profundidade de 20 metros, situada
em plena serra de Carnaxide a quase 300 metros da principal nascente e onde termina o túnel
que conduz a água até ao chafariz. No seu interior existe, além do reservatório de água, um
tanque circular em lioz que funciona como reservatório e filtro, existem bancos em pedra.
Ao longo do seu percurso, apenas são visíveis 3 claraboias que iluminam e ventilam o percurso
da água, de caudais variáveis, algumas de grande extensão, com galerias de menores
dimensões, com uma única caleira e cobertura a duas águas.
O Chafariz localizado na Rua 5 de Outubro, no centro histórico de Carnaxide, ostenta o brasão
real com a seguinte inscrição em latim:
O Fidelíssimo Rei José I
Mandou para utilidade deste povo
Correr livre esta água
No ano do Senhor de 1766
O percurso do Aqueduto de Carnaxide
O primeiro respirador encontra-se por baixo da rua Portal das Terras, no centro histórico de
Carnaxide.
O percurso subterrâneo atravessa toda a Avenida Portugal até ao Bairro da Luta pela Casa na
Outurela e pela estrada nacional que liga Benfica à Amadora.
Na recta final sobe-se a serra em direcção à Mãe de Água, que se encontra a 20 metros de
profundidade.
Aqui observa-se a rocha nascente de onde sai a água, que através do túnel é conduzida ao
chafariz, também na zona histórica de Carnaxide, frente à Igreja de S. Romão.

A Serra de Carnaxide
A serra de Carnaxide é uma área de grande valor natural pela fertilidade dos seus solos, pela
abundância dos recursos hídricos e pela diversidade da sua fauna e flora. Também é uma área
vital de conservação da natureza e, juntamente com a serra da Carregueira, forma um corredor
ecológico de grande relevância a nível regional. É um dos poucos espaços livres de grande
dimensão existentes entre as serras de Monsanto e de Sintra, permitindo também a definição
de um corredor entre essas serras(5). No topo da Serra de Carnaxide temos uma das melhores
vistas sobre Lisboa, o Tejo, a margem sul e a costa de Oeiras.
Não se compreende porque está encerrada uma das maiores nascentes do concelho que até
há bem pouco tempo abastecia a localidade de Carnaxide.
Não se compreende o desprezo pelo aproveitamento dos ricos recursos naturais à disposição
das populações, em favor de uma intensa construção de habitações, comércio, parques,
unidades hoteleiras e explorações agrícolas, descritos no Plano de Urbanização do Parque
Suburbano da Serra de Carnaxide e que estão a conduzir à total destruição destas
pequenas colinas que integram o Complexo Vulcânico de Lisboa, cujos calcários permitem
datar o Cretácico nesta região, compreendido entre há 145 milhões e 66 milhões de anos.
Referências bibliográficas
Monumentos: http://www.monumentos.gov.pt/site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=27746
Arquivo Municipal de Oeiras: Aqueduto de Carnaxide, Monumento de interesse público, 2012-
12-18. Código de Referência: PT/MOER/MO/CULT-HL/01/PAT/48236 (Aqueduto de Carnaxide
4)
Arquivo Municipal de Oeiras: Aqueduto de Carnaxide, Código de Referência:
PT/MOER/MO/NF/004/01/002508
http://gazetademiraflores.blogspot.com/2012/05/planta-geral-do-aqueduto-das-aguas.html
(1) Direção Geral do Património Cultural : http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonioimovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70880; Decreto –
Lei 309/2009, de 23 de Outubro.
(2) CAETANO, Joaquim Oliveira, O aqueduto das Águas Livres, O Livro de Lisboa, pp.293-312, Lisboa,
1998
(3) Serrão, Filomena – “Património – História”. Edição CM Oeiras, s.d.
(4) Marat-Mendes, T. Do aqueduto de Lisboa aos novos Vazios. [S.l.]: Associação Portuguesa para a
Promoção da Qualidade Habitacional, 2009
(5) João Pedro Pincha, Carnaxide tem um pequeno pulmão que pode ser grande para todos; 1 de Abril de
2020: https://www.publico.pt/2020/04/01/local/noticia/carnaxide-pulmao-1910369;