Um assunto de grande debate pela Europa fora é a necessidade de espaços pedonais mais amplos e da melhoria da qualidade dos acessos às escolas. O surgimento da COVID-19 veio aumentar ainda mais as exigências sanitárias e uma maior preocupação com as condições para andar a pé na via pública. É verdade que há já várias décadas que cidades nos Países Baixos, Dinamarca, e Alemanha têm vindo a apostar em políticas locais focadas na melhoria das condições viárias para garantir o conforto e segurança de todos, nomeadamente das crianças e adolescentes nos acessos às escolas.
Em muitos países é visto como uma forma de garantir bons hábitos de autonomia e saúde às camadas mais jovens, e é através da mobilidade diária ativa que se conseguem evitar muitos problemas no seu futuro. Esta tendência tem-se espalhado para muitas cidades por todo o planeta, e faz parte de cada vez mais políticas municipais. Aliás, diversos estudos confirmam que os alunos que se deslocam a pé ou de bicicleta para a escola geralmente apresentam melhor rendimento escolar (Mammen, Stone, Buliung & Faulkner, 2015; Rasberry, Lee, Robin, Laris, Russell, Coyle & Nihiser, 2011; Basch, 2010), ao realizarem atividade prestam mais atenção nas aulas (Kohl, Cook, 2013; ), tendem a ser mais saudáveis (Centers for Disease Control and Prevention, 2010; Pizarro, Ribeiro, Marques, Mota & Santos, 2013; Strong, Malina, Blimkie, Daniels, Dishman, Gutin, Hergenroeder, Must, Nixon, Pivarnik, Rowland, Trost & Trudeau, 2005), e vivem com melhor saúde ao longo da sua vida (Walker, 2021).

Atualmente, mesmo em grandes cidades como Londres, Paris, Glasgow, Roterdão ou Toronto, as ruas das escolas têm vindo a ser recuperadas para as crianças e o tráfego automóvel reduzido e acalmado para garantir uma melhor acessibilidade à porta da escola, evitar o congestionamento, o perigo rodoviário e a exposição à poluição atmosférica e ruído.

Em Espanha surgiu recentemente um movimento de pais a exigir que o trânsito seja eliminado das envolventes escolares, uma tendência que já se espalhou para várias centenas de escolas em dezenas de cidades do país vizinho e noutros países europeus (https://www.revueltaescolar.es/). E estes são países que geralmente apresentam muito melhores acessibilidades pedonais do que o cenário subdesenvolvido que se vê no concelho de Oeiras, com passeios estreitos e obstruídos.

Em Oeiras temos uma autarquia que mais facilmente constrói vias rápidas, viadutos, rotundas, ou mais estacionamento para automóveis do que salvaguarda bons acessos escolares à sua população jovem. Nas horas de entrada e saída das escolas reina o caos rodoviário, verificando-se situações de perigo para todos, mas em particular para as crianças que se deslocam a pé ou de bicicleta para a escola. Quem opta pelos hábitos mais saudáveis é penalizado pelas características das vias públicas que o Município de Oeiras tem vindo a realizar há mais de 3 décadas.

O ciclo vicioso da carro-dependência vai-se reforçando nos hábitos familiares, e perpetuando-se entre gerações: para a criança não ficar sujeita a perigo leva-se de carro à escola, aumentando o perigo e congestionamento que coloca em risco as outras crianças, e que gera impactos negativos na via pública. Sabendo que a utilização do carro só é viável com a infraestrutura que serve de suporte obrigatório para que seja uma escolha apelativa, os “investimentos” municipais têm vindo a ser direcionados para garantir a fluidez e velocidades que facilitam a vida de uns, mas colocam em perigo todos, além de prejudicarem a saúde e o meio ambiente.

E se começássemos a redirecionar os investimentos públicos e a distribuição do espaço público para as pessoas? Para benefício das nossas crianças? Um ótimo ponto de partida é nos acessos às escolas. Em vez de terem de ir de carro a todo o lado, porque não garantir passeios amplos e dignos? Porque não reduzir o tráfego de atravessamento junto das escolas? Tudo isto é possível se houver vontade política para realmente melhorar o concelho e qualidade de vida das pessoas, ainda por cima existe uma panóplia de medidas simples que facilitam as verdadeiras alternativas que disponibilizamos aos nossos filhos.